Históri@ de um encontro

Eles se conheceram pessoalmente durante uma viagem, mas na ocasião não tiveram nada além de troca de poucas palavras e de whatsapp onde durante 3 anos se falaram.

- Você é linda!

- Desde a primeira vez que te vi desejei tê-la como namorada, mas na época não tive oportunidade para te conhecer melhor.

"Sempre solícito e carinhoso, ele não se cansava de elogiar os atributos dela, analisados minuciosamente com a ajuda das fotos encontradas no Facebook".

Ela apenas se divertia com seu cortejo, já que não via condições de estarem juntos, não pela distância, mas por ele não a atrair em nada e por seus assuntos não chamarem sua atenção.

Mas como diz o ditado...

 ‘Agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura”

Após um longo período de conversas, observada sua educação, polidez, galanteios e juras de amor por parte dele, ela em sua carência viu-se atraída. 

Ele disse que iriam se encontrar. Desconfiada, ela não acreditou, mas deixou as coisas acontecerem.

Ele era o único que costumava telefonar e era sempre bem atendido. Percebendo essa condição, se queixou.

- Eu fico dias sem te telefonar, mas você não me telefona nunca.

Conversaram e ela foi sincera. Disse que em sua rotina agitada, não tinha notado que só ele telefonava e tudo continuou bem.

Ele disse que suas férias iniciariam em poucas semanas e enviaria dinheiro para a sua locomoção, pois gostaria de encontrá-la em outra cidade. 

Ainda sem acreditar, ela concordou e enviou o número da sua conta para o depósito. Os dias foram passando e ele enviando provas de que realmente iriam se encontrar (contrato de aluguel temporário entre outras coisas). Diante esses fatos, sem razões para desconfiar, ela baixou guarda e passou a acreditar.

"Ele chegou, mas em poucos dias o seu discurso “fofo” foi substituído por outro que parecia ter o objetivo de testá-la".

- Vou te mandar o dinheiro. Quero que você venha logo. Cheguei a 1 semana, já estou com um monte de roupas sujas e preciso que você venha lavá-las.

- Você quer que eu vá aí para lavar a sua roupa? Coloque na máquina. Disse surpresa.

- Esse é o papel de uma namorada / mulher. Você acha justo vir me visitar e minha roupa continuar suja? Você que vai lavar. A casa que aluguei não tem máquina de lavar, mas tem tanque, bastante água, sabão. Tem tudo o que você precisa para deixar minhas roupas limpas.

Fiz compras e a geladeira está cheia. Você também vai cozinhar e arrumar a casa.

Enquanto isso, incrédula com olhar de espanto e sem palavras o observava durante aquela chamada de vídeo onde ele fazia questão de mostrar tudo para comprovar o que dizia.

- Então quer dizer que você quer que eu viaje mais de 7 horas para uma cidade que eu não conheço para lavar, passar e cozinhar? Quero conhecer a cidade.

- Você conhecerá quando não tiver nada para fazer em casa.

Naquele momento, passou um filme em sua cabeça.  Onde aquele homem tão amável se escondeu? 

- Como não enxerguei este ogro durante esses anos em que nos falamos? Pensou

Ela se lembrou de uma ocasião em que ele pediu para que enviasse naquele instante, uma foto sua de corpo inteiro. Não era uma “nude”, mas ela disse que não enviaria.

- Se você não mandar eu vou ficar muito chateado com você. Disse ele

- E o que acontece quando você fica chateado? Questionou.

- Não sou um homem violento, mas não queira me ver chateado!

Na ocasião ela não enviou a foto. Apesar de não querer assumir o papel de mãe, achou educativo não satisfazer os caprichos de um homem mimado.

Após a ligação que a deixou em choque, as ligações foram escasseando assim sua “fé” nas palavras dele, até que chegou a hora dele voltar para casa. Eles não se encontraram e assim como um vento tudo se desfez mais rápido do que o início. Ela percebeu que aquela situação era uma furada e ele, que ela não era uma mulher fácil para subjugar.

Meu objetivo com este texto é alertar as pessoas sobre a questão dos relacionamentos abusivos, que a princípio parece uma coisa boa. Ás vezes ele vem disfarçado de zelo que você acredita ser amor e não se atenta aos sutis sinais de abuso.

"Muitas vezes nós mulheres buscamos um homem que nos possibilite ser apenas mulher. Queremos parar de usar nossa força dando 'porrada' no mundo para nos defender."

O abusador sabe disso, sendo muitas das vezes alguém que independente do grau de escolaridade sabe usar bem as palavras a seu favor. Ele fala exatamente o que sua “presa” quer ouvir. 

Relacionamento abusivo não é “privilégio” de pessoas ignorantes. Qualquer um (independente da orientação sexual,nível socioeconômico, cultural) pode ser enredado a ponto de só atentar para a situação quando os danos forem bem expressivos. 

Enfim, assim como a planta, o ciclo do abuso começa pequeno, mas se nos deixarmos levar, ele crescerá a tal ponto que os prejuízos podem ser irreversíveis.
Engana-se quem pensa que um relacionamento abusivo começa com agressões físicas.