Quem precisa de remédios?
Sempre começo o grupo
no CAPS perguntando a todos como estão. Muitos me respondem de forma automática
que estão bem, mas neste dia, um dos participantes disse que não estava nada
bem.
Falou que seu fim de
semana não foi bom. Que sua mãe consumiu mais álcool que deveria e que quis
discutir com ele, falando coisas que antes o tiraria do sério.
Ele disse: “Parece
que depois que comecei a fazer o tratamento, consigo enxergar as coisas melhor,
enquanto a minha família parece piorar com o tempo. Ás vezes me pergunto, quem na verdade precisa de
remédios, se sou eu ou os meus familiares. Parece que sou o menos louco da
família.
Todos concordaram
balançando a cabeça e riram. Outra participante disse que acontece o mesmo em
sua família. “Tem dia que todos parecem descompensados”.
- Vocês estão em
tratamento enquanto os familiares ficam 'descobertos'. Não quero invalidar o que
vocês vivem, mas eles não passam por um acompanhamento. Pontuei.
Outro disse que sua
mãe participa do grupo de família e isso ajuda, mas não tem ajudado muito.
Ressaltei: - O objetivo do grupo
de família no CAPS é ser um espaço onde o familiar tem a liberdade para falar
sobre a sua experiência, conhecer a doença e seus sintomas, pensando na melhoria do tratamento. É uma extensão do
tratamento do familiar “doente”. Se o familiar tiver a noção de como o portador
do transtorno se comporta, o que sentem e o que significa os seus sintomas,
ajudará principalmente no momento da crise.
Os grupos de família
não têm tempo para trabalhar as demandas deles. Por mais que ele saiba da
condição de seu familiar, quem se interessa pelo seu próprio bem estar? A quem ele /
ela poderá recorrer em suas próprias crises?
Ana Helena A. de Souza
Psicóloga e Coach
CRP 05 / 39678
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